O goleiro Aranha retornou a falar sobre o caso de racismo em que foi vítima, na Arena, em 2014, durante uma partida entre Santos e Grêmio pela Copa do Brasil. Nesta quarta-feira, ele foi o convidado do Troca de Passes, do SporTV, para tratar do delicado tema que novamente está em debate com a recente morte do ex-segurança negro George Floyd por um policial, branco, por asfixia, nos Estados Unidos.
Aos 39 anos, o arqueiro jogou por último no Avaí, em 2018, e aproveitou a nova ocasião para reclamar da postura que o Grêmio teve com ele quando voltou a atuar na Arena após o caso.
“Esse é um caso que foi para mídia (morte de George Floyd), filmaram, como meu caso na Arena do Grêmio. O problema são os casos que não são registrados. Para você ter ideia, no caso do Grêmio com toda a filmagem, com todas as provas, com tudo que foi falado, o Grêmio colocou uma câmera exclusiva para mim toda vez que eu voltava e me colocaram como agitador, como oportunista. Em nenhum momento o Grêmio agiu como deveria”, lamentou, para depois desabafar de forma mais abrangente:
“A parte dos xingamentos (racistas) é a mais fácil. Complicado é com aquilo que você não enxerga. A essência do futebol no Brasil é totalmente racista, os negros não podiam jogar. Como é uma coisa nova ainda, de 100 anos, tem muito diretor, netos de diretores daquele tempo. Muito figurão ainda no futebol que traz esse pensamento. O que aconteceu com o Barbosa (goleiro da Copa do Mundo de 1950)… Eles usaram aquele lance para descarregar o racismo nele, porque era negro e eles não queriam. Usaram aquilo e depois dele para todos, “goleiro negro não vinga, não serve”. No meu caso, passei a ser o encrenqueiro. Todo time que me contrata sabe que toda vez que acontecer alguma coisa eu vou ter que falar e estarei com a camisa do clube. Nem todo diretor está disposto a abraçar isso”.
Na específica situação, Aranha defendia o Santos, que venceu o duelo de ida na Copa do Brasil por 2×0 e não precisou do jogo de volta, uma vez que o Grêmio foi excluído pelo STJD por racismo.
A torcedora Patrícia Moreira, além de Eder Braga, Fernando Ascal e Rodrigo Rychter, foram acusados pelo caso. Eles tiveram que se apresentar em uma delegacia uma hora antes de cada jogo oficial do clube – em casa ou fora -, com saída uma hora depois, durante dez meses. Os quatro aceitaram em novembro de 2014 a proposta de suspensão condicional do processo.